Incentivar a valorização da vida e adotar ações de prevenção ao suicídio e à automutilação. Esse é o objetivo do projeto do Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) que foi levado, nesta terça-feira (22), ao município de Delmiro Gouveia. A cidade foi escolhida para receber a segunda etapa da “Ação estadual em defesa da vida” em razão da quantidade de crescente de casos de pessoas que se suicidaram nos últimos anos. Essa iniciativa seguirá percorrendo todo o estado nos próximos meses com a realização de campanhas educativas e palestras para todos os tipos de público.

Durante todo o dia aconteceram dois eventos. Pela manhã, as atividades ocorreram no Memorial Delmiro Gouveia e contaram com a participação das promotoras de justiça Micheline Tenório, coordenadora do Núcleo de Defesa da Saúde Pública, e Hylza Paiva Torres, coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher, e do promotor titular da 1ª Promotoria de Justiça de Delmiro, João Batista Santos Filho.

No bate-papo com os profissionais que integram a rede de atendimento de assistência social e também das áreas de saúde e educação, Micheline Tenório, que está na coordenação do projeto, chamou atenção para o fato de que é preciso respeitar a dor do próximo e que os técnicos que atuam nesses segmentos precisam estar atentos aos sinais. “A gente precisa enxergar com mais sensibilidade as pessoas que estão ao nosso redor e procurar compreender aquela fase ou momento em que elas estão necessitando de auxílio. Estender a mão é um gesto simples e que não nos custa nada. Não podemos julgar e nem lidar de forma preconceituosa. Agindo assim, com tolerância, certamente poderemos ajudar aqueles que estão precisando do nosso apoio. Muitas vezes, essas vítimas só querem ser ouvidas, só querem um pouco de atenção”, disse ela.

A promotora Hylza Torres, aproveitou a oportunidade para relatar que, em Coruripe, cidade onde atua, ela lidou recentemente com quatro casos de automutilação. “Uma das meninas tem 12 anos e eu perguntei para ela o porquê daquilo. A resposta que ouvi da adolescente foi a seguinte: ‘eu quero ser ouvida pela minha família, pelos meus amigos, mas ninguém me dá atenção’. Então, vocês que são pais e parentes, atentem para isso. Não deixem que seus filhos destruam a própria vida”, alertou, lembrando que foi isso que a levou a criar o projeto Mensageiros da Esperança, atualmente desenvolvido em Coruripe, justamente para combater a prática de suicídio e de automutilação.

O promotor João Batista lembrou que Delmiro Gouveia, de fato, tem registrados casos de pessoas que tiraram a própria vida. “Esse projeto nos chega em boa hora para dizer a vocês que o Ministério Público está aqui, pronto para lhe ajudar. À rede atendimento, quero assegurar que podemos capacitar aqueles que precisarem de mais qualificação. Essa iniciativa poderá nos auxiliar bastante para melhor entendermos o comportamento de muita gente e saber qual a melhor forma de ajudar a essas pessoas”, detalhou.

Encontro com docentes e discentes

Já no turno da tarde, as palestras aconteceram na Escola Municipal Afrânio Lages. Pais e professores se reuniram com as promotoras Micheline Tenório e Hylza Paiva e com representantes do CVV – Centro de Valorização da Vida.

A outra parte da equipe, formada também por integrantes do CVV, da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos e da Associação AME (de combate à violência doméstica), conversaram com centenas de alunos. Os temas abordados foram os mesmos: possíveis motivos que podem levar alguém ao suicídio e à automutilação.

O projeto

O projeto “Ação estadual em defesa da vida” tem um longo prazo de duração e vai promover, dentre outras coisas, palestras e apresentações multidisciplinares em vários municípios do estado, encontros com profissionais e representantes das escolas públicas e privadas para capacitação e sensibilização a respeito do acolhimento de estudantes e da obrigatoriedade de notificação compulsória e reuniões para tratar de questões relativas à exposição direta ou indireta de trabalhadores a substâncias nocivas à saúde mental.

Também está prevista a realização de encontros regionais com profissionais das delegacias da mulher para capacitação a respeito do acolhimento e da obrigatoriedade de notificação compulsória, assim como para criação de fluxo para encaminhamento de vítimas a acompanhamento psicológico/psiquiátrico/social.

O projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Polícia Militar de Alagoas, a Secretaria Estadual de Prevenção à Violência, o Centro de Valorização da Vida em Maceió e a Secretaria Estadual de Saúde.