Depois da experiência bem-sucedida de levar um grupo de 30 socioeducandos para a VI Bienal Internacional do Livro de Alagoas no início da semana, o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPE/AL) e a Secretaria Estadual de Promoção da Paz (Sepaz) organizaram, nesta quinta-feira (31), uma segunda visita ao evento literário, dessa vez com sete adolescentes da Unidade de Internação Feminina (UIF) e 10 outros da Unidade de Semiliberdade Masculina (USM). A atividade também contou com o apoio da Superintendência de Medidas Socioeducativas e da 1º Vara Criminal da Infância e da Juventude.

Representante do MPE/AL no acompanhamento dos jovens, o promotor de Justiça Rogério Paranhos, titular da 12ª Promotoria de Justiça da Capital, lembrou que atividades externas já são previstas pelo Estatuto da Criança e da Adolescência (ECA) em benefício de socioeducandos. Após conversar com diretores das unidades de internação presentes no primeiro passeio, Rogério ficou sabendo que o clima no ambiente em que os jovens cumprem sentença estava mais tranquilo, harmonioso e até com maior participação dos adolescentes.

“Estes jovens merecem o melhor teatro de Alagoas, os melhores espetáculos e o melhor acesso à cultura do estado, até porque foram os pais deles que ajudaram a construir cada um destes espaços. Isso aqui é desses adolescentes também e, por isso, devem aproveitá-lo. Fiquei sabendo que, durante uma atividade pedagógica nesta semana, os socioeducandos da primeira visita escreveram ou falaram sobre a ida à Bienal, descrevendo a experiência. Eles disseram que apertaram a mão do Frei Betto, que o religioso tinha sido preso que nem eles, do uso de elevador de graça, da escada rolante e de tantas coisas que mostram o fascínio desses jovens pelo que os aguardam aqui fora”, descreveu Rogério Paranhos.

Junto com a Sepaz, o Ministério Público quer acompanhar os jovens nas atividades de lazer e cultura que serão realizadas em novembro e dezembro. De acordo com a diretora pedagógica do Plano de Reestruturação do Núcleo Estadual de Atendimento Socioeducativo (NEAS), Cássia Moreno, haverá mais saídas externas e uma festa de Natal nos próximos meses. “Acreditamos no poder de integração entre os jovens que cumprem medidas socioeducativas em eventos interno e externos. O que dificulta a realização dessas atividades são os conflitos dentro da unidade, responsáveis por inviabilizar o nosso cronograma de eventos”, disse a servidora da Secretaria.

As adolescentes

Das 12 adolescentes que estão na Unidade de Internação Feminina, sete estiveram no passeio pela VI Bienal Internacional do Livro ontem. As jovens acompanharam a peça O Rei do Baião, participaram de uma oficina de bordado e viram os livros dispostos nos estandes. Uma das jovens tem 17 anos e cumpre pena na UIF há um ano e sete meses. “Não são muitas as oportunidades de visitar locais como este. Quando elas ocorrem a gente gosta, procura aproveitar. É a primeira vez que participo de uma Bienal do Livro e que acompanho uma peça no Teatro Gustavo Leite”, disse.

Já outra de 18 anos, participou de uma atividade externa pela primeira vez desde que passou a viver na UIF há oito meses. Em dezembro, ela vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio para tentar ingressar na universidade pública em 2014. Mesmo com a proximidade das provas, a socioeducanda não sabe bem qual curso quer fazer, apenas tem o desejo de trabalhar como policial. “Vou estudar para ter uma perspectiva de vida melhor”, disse a adolescente.

Uma das socioeducandas tem apenas 15 anos e passará os próximos três na UIF. Ela disse que gostou da peça porque mostrava cenas do sertão, sob o som de músicas do cantor Luiz Gonzaga. “Para mim, o mais importante de vir até a Bienal foi perceber o quanto de vida estamos perdendo lá dentro da unidade”, revelou a jovem.