Quem desconhece o trabalho não sabe da emoção ao devolver um ente querido à família, de sofrer e vibrar junto nessa missão de mover o mundo por um final feliz. A muitas mãos, o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), do Ministério Público de Alagoas (MPAL), tem demonstrado compromisso, responsabilidade, muito empenho, e conquistado credibilidade por esse olhar diferenciado com o cidadão alagoano. É uma rede formada por órgãos indispensáveis, seja na área da segurança estadual, unindo as polícias Científica, Civil, Militar, o Corpo de Bombeiros, ou na esfera federal com as polícias Federal e Rodoviária Federal, na Saúde com o Hospital Geral do Estado e unidades do interior, o Hospital Portugal Ramalho, conselhos tutelares, assistentes sociais de várias instituições contando com o apoio imprescindível da sociedade civil.

João, Victor, Euclides, Emily, Eronides, Alisson, Mikaela, Deyvisson, Isvaldo, André e tantas outras vidas já foram salvas. São idosos, crianças, jovens e adultos cada um com os seus problemas e situações adversas que desencadeiam o desaparecimento e requerem ação imediata e eficaz, na capital, no interior, advindas de outros estados. A coordenadora do PLID/AL, promotora de Justiça Marluce Falcão, reafirma que nada seria possível sem as parcerias que somam forças para que o propósito seja atingido.

“O Plid, para mim, é uma missão divina, onde muitas pessoas dão as mãos para resgatar outras e promover o reencontro com suas famílias. É uma corrente forte que tem como um dos pontos primordiais agir com celeridade para evitar que vidas sejam perdidas. Decerto, nem sempre temos um desfecho feliz, mesmo assim, ao menos encontramos e devolvemos o desaparecido aos seus parentes para que possam se despedir. Para o Plid não existe cor, raça, nível social, existem apenas pessoas com a mesma importância, independente do que as levou a desaparecer. Só temos a agradecer o envolvimento dos órgãos tão fundamentais nesse processo, sem esquecer um suporte importantíssimo partindo do cidadão que vendo nossos cards entra em contato e agimos imediatamente. Em 24 horas, por exemplo, tivemos dois casos onde contamos com esse auxílio”, declara Marluce Falcão.

Casos recentes

Na semana de 11 a 16 de junho de 2023, o PLID/AL conseguiu solucionar vários casos, ao todo sete pessoas foram encontradas e se encontram bem e com seus familiares. Como exemplo, podemos citar o final feliz do senhor Francisco que , perdido, foi acolhido em uma casa da passagem e, graças a divulgação do card com sua foto, compartilhado nas redes sociais e nos grupos, retornou para a família.

Na quinta-feira, dois casos similares movimentaram a rede Plid/AL com os desaparecimentos de Victor Corbett de Morais, 41 anos, e Jorge Miguel Cardoso Ferro Carvalho Falcão Viana, de 16. Victor , que é de Aracaju, saiu da casa dos pais em uma bicicleta, como se fosse dar uma volta e tomou destino ignorado. No dia seguinte o dono de uma pousada no município de Coruripe fez uma ligação dizendo que o rapaz do card havia passado por lá, no entanto, ao perceber a movimentação Victor fugiu novamente. Mais uma vez tomou destino ignorado. A família então fez o boletim de Ocorrência e o Plid de Alagoas foi acionado, imediatamente entrou em ação com as polícias de prontidão também nas rodovias. Victor deixou a bicicleta noutra pousada e chegou a ligar do telefone de uma desconhecida para a mãe avisando que estaria voltando, mas, na verdade, era para despistar. O irmão dele veio para Alagoas e descobriu que Victor tinha solicitado um táxi que iria de Maceió buscá-lo e com o Plid foi feito contato com o taxista para segurá-lo por lá, no entanto ele desconfiou a comunicação com uma moça da pousada, ignorou o primeiro táxi, pegou a bicicleta e saiu. Iniciou-se uma nova busca para saber qual o outro carro teria levado Victor e para onde, até que foi descoberto que ele seguira para o município de Barra de Santo Antônio. Então Amanda, advogada e assessora do Plid, repassou as informações e ele foi interceptado pela polícia e levado de volta para casa.

Depoimentos como o da mãe de Victor Cobert motivam a rede PLID a continuar a luta, a esperançar famílias.

“Se não tivéssemos tido todo esse apoio incondicional e a eficácia do Ministério Público , o acolhimento da Amanda e de todos os profissionais que integram o Plid, em um dia perderíamos o Victor, porque teria muito tempo para seguir em frente com o dinheiro , cerca de 10 mil, e se não fosse roubado poderia ocorrer uma situação mais grave. Então, conseguimos, graças a todas essas ações conjuntas, ao amor da Amanda para nos acompanhar, ao bom Deus, estamos com nosso filho que foi encaminhado a um internamento onde deva passar dez dias. Agradeço enormemente a todos dessa linda equipe”.

Final feliz também para a família de Jorge Guilherme , cuja história e desfecho aconteceu com uma participação superimportante de um cidadão comum, aquela pessoa de coração bom e que Deus usou como instrumento para o Plid/AL. O adolescente, de 16 anos, saiu da sua residência em Palmeira dos Índios, no meio da madrugada da quinta-feira (15). Por ser de menoridade, o Plid/Al aguardou a autorização da família para confeccionar e compartilhar o card com sua foto. As buscas foram intensificadas, as polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal mais uma vez atuaram estrategicamente. E, por meio do card, ele foi identificado dentro de um van. Um homem então entrou em contato com o Plid/AL e foi pedido uma foto, tirada com cuidado para que Guilherme não desconfiasse. Comprovado que era ele foi pedido que , gentilmente, fotografasse também a placa da van para que a polícia pudesse seguir e interceptar na hora correta, tudo com o zelo para evitar que o jovem fugisse. Assim, por volta das 16h da sexta-feira (16), João Guilherme foi encontrado e devolvido aos familiares.

O Plid também tem momentos de perdas, pois infelizmente há situações que são bem mais desafiadoras e fogem ao seu controle encontrar com vida, embora as buscas , todas elas sejam incessantes e com a mesma doação. Mas, o Plid também cumpre um papel fundamental, mesmo nessas situações difíceis e tristes, pois consegue entregar à família os seus entes para que possam se despedir e sepultar.

Uma dessas histórias foi a do turista paulista, Paulo Sérgio Batista da Silva, que morreu afogado. A família fez contato também com o Plid, informando que ele teria sido visto pela última vez no Hotel Coqueiros Express. As buscas começaram, com envolvimento das polícias, e o corpo foi encontrado na zona rural de Passo do Camaragibe, Litoral Sul. Encaminhado ao IML foi identificado por meio da papiloscopia. Comunicada pelo Plid, informando sobre a tragédia, o filho veio à Maceió para adotar as providências. Por conta do custo alto para o traslado, decidiram fazer o sepultamento de Paulo Sérgio na capital alagoana.

“Obviamente nossas ações, o envolvimento de todas as instituições que integram o Plid é para encontrar as pessoas com vida, mas nos conforta saber que, também, as famílias, apesar de a imensa dor com a perda, sentem-se igualmente confortadas porque viram os parentes, eles foram encontrados, apesar de a expectativa, desde o início, ser outra. É um trabalho delicado, bonito, que mexe com nosso emocional o tempo todo. É preciso que estejamos preparados para as respostas e firmes para continuar”, conclui Marluce Falcão.

Dados

Em Alagoas , no sistema Sinalid/Plid, de 2.308 casos, existem 1880casos em investigação e 428 já foram elucidados. Pelas estatísticas, em número de desaparecidos 64.05% são homens, outros 33,26% são mulheres, e 2,69% crianças.

Por idade, temos um percentual de 31,55% têm entre 12 e 17 anos; 16,67% têm entre 18 e 24 anos; 9,40% ficam entre 25 e 30 anos; 17,02% entre 31 e 40; 9,88% entre 41 e 50; 6,67% mais de 60; e 2,62 de 0 a 111 anos.

Causas

O Plid elenca , caso a caso, o que teria motivado a fuga. É dessa forma que se aciona, além das polícias, as instituições ou órgãos que tenham maior familiarização com o problema. Pela estatística, em Alagoas 37.61% dos desaparecimentos foram sem motivo aparente; 18,36% por conflito intrafamiliar; 12,70% por problemas psiquiátricos; 9,80% por perda de contato voluntário; 6,83% por dependência química; 6.21% são possíveis vítimas de homicídio; .07% possíveis vítimas de sequestro; 1,24% por envolvimento com o tráfico de drogas; 1,04% institucionalização-paradeiro desconhecido; 0,62% por abandono; 0,41% por prisão/apreensão; 0,14% possível vítima de acidente; 0,07% por subtração para exploração sexual; 0,07% possivelmente por óbito não comunicado (exceto homicídio0; 0.07% possível vítima de feminicídio; e outros 0,07% são possíveis vítimas de afogamento.